sexta-feira, 10 de junho de 2011

E se eu cair?

Sou um rato de praia. Sou mineiro. Todo mineiro é deslumbrado com o mar. Cheguei ao Rio com quatro anos de idade e o mar de Copacabana sempre foi minha praia. Naquela época, por volta de 1913, rato de praia tinha outro significado. Hoje o sentido é pejorativo. No meu tempo designava essa espécie de gente que levanta muito cedo, veste uma sunga, e só vai embora da praia quando o sol se põe.

Meu pai foi um grande nanador de piscina. Quando o mar de Copacabana era mar de piscina, ele se exibia nadando contra a maré, mergulhava e subia, respirava como respiram os botos e eu achava isso o máximo. 

No começo, me levava nas costas. Meu pai ia nadando de peito e eu flutuava sobre ele. Quando cruzava a arrebentação, às vezes apertava um pouco mais o pescoço dele com medo de escorregar. Ele fingia engasgar e reclamava sorrindo: "Assim você vai nos afogar". 

Um dia meu pai me pegou pela mão, me levou até a beira da praia, olhou o mar imenso, virou-se e disse: "Vai dar um mergulho". Eu olhei aquele marzão besta, pensei um pouco, olhei de volta e perguntei, a voz trêmula.
"E se eu cair?"
"Se você cair, eu estarei aqui perto para proteger você."


É uma das lembranças mais delicadas que tenho do meu pai.
Hoje, aos 85 anos, ele só se arrisca em longas caminhadas pelo calçadão de Copacabana. 


Meus pais estão casados há 70 anos. Semana passada, minha mãe precisou ir a São Paulo. Pretendia ficar uns dez dias dando carinho e atenção à minha irmã, que fez uma cirurgia delicada no coração. 

Meu pai fica indócil nessas horas. Telefona varias vezes perguntando ela vai voltar. Ontem liguei para saber notícias e dar um apoio moral. 


Achei que seria um conforto. Uma força para ajudá-lo a enfrentar duas semanas de solidão. Ele reclamou que estava sozinho. Tentei minimizar a ausência de minha mãe lembrando a roda de amigos da praia. 


"Mas eu não passo o dia na praia."
"Pai, procura alguma coisa para se distrair em casa." 


Ouvi alguns segundos de silêncio, até ele dizer do outro lado da linha, a voz trêmula:
"E se eu cair?"

Fonte: Jornal O Povo - Ruy Lima
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Oração

Uma bela produção, uma canção, uma oração...





Meu amor essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois

Cabe até o meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois

Cabe até o meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe essa oração
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