terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cacarecos do Meu Dia

O meu Cristo

   Saindo para passear com o cachorro, seguindo a rotina de sempre, dobrei uma esquina e ao longe vi um senhor que carregava uma criança no colo. Estavam do outro lado da rua, os carros passavam rapidamente por nós, o cachorro parava um pouco e continuávamos a andar. Este senhor atravessou a rua e caminhava a minha frente, a criança parecia segura em seu colo. Era uma menina, de mais ou menos dois anos que muito me lembrou uma sobrinha que tenho do qual esta sobre ela uma enorme saudade.
   Parecia segura nos braços daquele homem e passava a sensação de estar livre. Olhando para trás, segurando no pescoço dele, abriu a boca e levantou as sobrancelhas. De súbito entrei naquele jogo infantil e fiz o mesmo. Ela fechava a boca e esperava a minha ação, o homem nem havia percebido a brincadeira. E continuamos assim por alguns segundos, até que ele dobrasse com ela novamente a esquina e desse fim a nossa diversão. Apressando um pouco o passo, avistei-os novamente e tentando continuar a brincadeira, abri bem a boca e levantei ao maximo que podia a sobrancelha, para minha alegria ela fez o mesmo. Até que outro homem passou por eles, e ela lançou para ele o seu olhar. Tentava ver em quem ela fixava sua atenção, realmente era nesse homem. Vi que era um senhor, que já não parecia ter domínio sobre o corpo e cambaleava. Segurando uma marmita na mão, os passos eram lentos e logo depois um tanto quanto apressados. Não parecia ter rumo, não parecia ter família, por certo a noite para ele apenas havia começado.
   Debruçamos os nossos olhares sobre aquele homem, de algum modo isso teve a capacidade de mexer comigo. A menina e seu pai seguiram o caminho, eu continuei a olhar para aquele que intitulei “o meu Cristo”. Insistindo em seus passos desiguais, olhou para mim e deu um bocejo de quem já não dorme a muito tempo ou de quem realmente não tem um lugar para descansar. Se Distanciado, colocou sua marmita sobre a porta de uma loja. Logo pensei que fosse sentar-se ali para comer, porém, pegou dois objetos, creio que eram talheres, segurou seu pratinho e comia ao mesmo tempo em que andava. Pensei em segui-lo, mas precisava voltar para casa.
Quando voltei os olhos para minha frente, a companheira de jogo já estava muito distante e dobrava novamente uma esquina. Quem sabe nunca mais os encontre, mas mesmo sem saber, aquela menina e aquele moribundo eternizaram este momento em mim. Cristo quis assim, mostrar-se. Estando na pureza das crianças e no bocejar cansado de um mendigo. Eles são o meu Cristo, a quem devo amar e aprender os mistérios do céu.
 “Tudo o que fizeres a esses pequeninos, é a mim que o fazes”
Hoje posso dizer com toda certeza: Cristo acabou de passar por mim, sorriu-me, fez caretas, bocejou e seguiu seu caminho.
Eu vi o Senhor.

Ps:. Esse será meu primeiro post (até onde me lembro) que não postarei nenhuma imagem. Precisava ter tirado algumas fotos com os Meus Cristos, mas infelizmente não deu! Deixem rolar a imaginação de vocês! Abraços a todos os CacarecosLeitores! 
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